terça-feira, 5 de novembro de 2013

Inah Tôrres – “O começo do jornalismo social de Petrolina”


Por Alexandre Borges e Lícia Loltran

Foto: Arquivo pessoal



Uma menina “assanhada”

 “Quando eu era pequena diziam que eu não ia dar para o que prestasse”. Era essa ideia que a sociedade da década de 40 fazia de uma menina de 13 anos querendo trabalhar fora de casa, mesmo Inah trabalhando com o pai e o irmão. Seu pai foi diretor do jornal “A Defesa” em Caruaru, terra natal de Inah, e seu irmão era distribuidor de jornais na capital Recife. Dessa forma, a cada dia a jovem se interessava mais pelo universo das letras e se entusiasmava em participar de tudo aquilo. Seu pai, que era um autodidata e sempre incentivou os filhos a lerem jornal, deu a primeira oportunidade da filha em escrever no jornal “A Defesa”.Inah, entusiasmada com a ensejo, escrevia pequenos textos para o jornal até o dia em que, um tanto quando ‘assanhada’ com o mundo do jornalismo e suas possibilidades, resolveu escrever quadrinhos sobre ‘O Beijo’. Seu João Tôrres, pai de Inah, não permitiu que a filha escrevesse novamente para o jornal.

Mesmo com a proibição, a jovem Inah continuou trabalhando na parte administrativa do jornal e se encantando com todo o processo, desde a produção na tipografia, onde ela relata a minuciosa criação do jornal, desde a montagem das letras, às prensas e outros aspectos de confecção do jornalismo da época. Inah Tôrres cresceu entre os jornais, o pai dirigia um, o irmão distribuía, e a rua que ela mais adorava e frequentava em Caruaru, era a Rua Vigário Freire, composta de vários jornais em toda sua extensão. Foi assim, que a menina ‘assanhada’ foi crescendo e trabalhando com o jornalismo, mas ainda queria que seu nome estivesse nas páginas, queria poder falar do que gostava nas páginas do jornal, do seu jeito, queria ser jornalista social.

Mas, Inah Tôrres ainda continuaria conhecendo o processo dos bastidores quando foi trabalhar com seu irmão Luiz Tôrres na sessão administrativa da distribuição de jornais. Assim, ela, que amava conversar, ficava sabendo das principais notícias e também tinha acesso a inúmeros jornais diferentes. A oportunidade que Inah aguardava não demoraria a se concretizar. Todo o incentivo recebido de seu pai e irmão refletiria, como explica Inah, em toda a paixão da família pelo jornalismo. Legado que Inah recebeu e que deixa também para seus filhos e netos, muitos deles também envolvidos nesse mundo fantástico, que é o jornalismo para a família Tôrres.


 “Aí é com você!”

Chegando à Petrolina em meados dos anos 70, graças a uma série de fatores – entre eles o casamento, o fato de querer ficar perto do marido e a presença de Joãozinho do Pharol, Inah nunca mais foi a mesma. Quando fala do querido amigo Joãozinho, seus olhos brilham e, nos lábios, aparece um sorriso inocente de adolescente.
- Aquele homem era retado! – diz, risonha.
Pedida, inclusive, para definir o jornalismo da época na cidade, Inah não titubeia e, da sua boca, sai a expressão: “A grandiosidade de Joãozinho do Pharol.”
Ela conta, feliz, que foi a primeira mulher a assinar um jornal na região. Muitas moças já trabalhavam em outros processos de produção, como na tipografia (a qual ela descreve tranquilamente, como se tivessem se passado dias ao invés de anos), mas Inah foi a pioneira DENTRO do jornal. A ideia era escrever uma coluna social.
- Mas Seu Joãozinho, como ela vai se chamar?, Inah questionara
- Ah, Inah, aí é com você! – ela narra, procurando gesticular com as mãos e demonstrar com a face gestos característicos do grande amigo do passado.
Surgia assim o Com Você... Crônica Social. E começava, dessa maneira, ainda que gradualmente, a consagração de Inah dentro do jornalismo social. Ela afirma, com um sorriso arteiro no rosto, que as pessoas queriam sair em sua coluna. E é com o mesmo sorriso, só que agora de orgulho, que ela diz que nunca aceitou nada de ninguém por um lugar no jornal.
- Eu escrevia sobre tudo; eu queria escrever tudo. Não gosto, até hoje, de notinhas pequenas.
À época, Petrolina já demonstrava claros sinais de avanço, não só pela chegada das máquinas que aceleraram o processo, mas por uma combinação de fatores. Inah é categórica ao afirmar:
            - Já se falava em Petrolina ser grande. Tudo isso que a cidade é hoje... A gente já imaginava.
Questionada sobre o regime militar que àquela época vigorava, Inah não titubeia:
- Eu era apaixonada pelos militares! Se eu pudesse, teria me alistado.
E termina o assunto afirmando que nunca sofreu censura.     

“Minha paixão é o papel”

Quando o assunto se volta para o rádio, especificamente a Radio Grande Rio AM, a qual Inah começou a fazer parte em 1982, após um convite de Carlos Augusto, seus olhos brilham. Começava, assim, o Em Sociedade, uma versão radiofônica do Crônica Social, por assim dizer. O programa está no ar até hoje.
Contudo, Inah deixa claro: “Minha paixão é o papel.” Tece distintos elogios ao rádio e sua capacidade de difusão, mas diz que o mesmo perde na capacidade de se perpetuar. “Papel é pra sempre. Não vai acabar. A gente pode ler hoje um jornal de 20 anos atrás.”
E é tal paixão que a faz ser categórica quanto ao pensamento de que hoje em dia jornalista não precisa mais ter diploma.
- Eu fico triste. Na minha época, só tinha diploma quem era rico, quem podia mandar os filhos estudarem em Recife. A gente aprendia na garra. Mas eu fazia tudo direitinho. O meu registro é um dos 100 primeiros.
De fato, o registro de Inah junto ao Conselho de Jornalistas é o de número 097.
- Naquela época, era isso que a gente tinha que fazer para legalizar. Mas durante o processo, a gente continuava trabalhando. Eu disse: “Me tire daqui que eu arrumo um advogado, te processo e ganho.” Alguém tentou me impedir de fazer o que eu amava? Não.
E, de fato, nos perguntamos: Quem seria o louco?

A animação de hoje e sempre
Inah Tôrres, com uma simpatia e animação contagiante, relembra do momento e do sentimento que a tomou quando foi convidada para escrever sobre Petrolina no Diario de Pernambuco e no Jornal do Commercio. Para ela, escrever sobre a cidade de que a acolheu de braços abertos, em dois veículos que são de suma importância para a região tornou-se sua maior alegria.

No Diario, Inah escrevia meia página sobre eventos, grandes acontecimentos e personalidades da cidade. Inah Tôrres conta que, várias vezes, recebeu ofertas que tentavam comprá-la para que pudessem aparecer em suas colunas sociais. Essas propostas tornaram-se frequentes, mas a ética sempre andou de mãos dadas com a jornalista. “Uma vez eu fui comer em um restaurante e disseram-me que eu não iria pagar nada. Que era só colocar uma notinha na minha coluna. Não aceitei e paguei meu almoço. Se eu gostar do local, da comida e for bem atendida, aí sim eu escrevo sobre”, explica Inah.

Ao ser perguntada sobre “a Inah de ontem e a Inah de hoje” ela responde rápida, que não há mudança. Continua com a mesma dedicação, esforço e amor ao jornalismo. Diz entre sorrisos que adora se doar para as pessoas e dar boas notícias.“Se eu tiver que dar uma notícia ruim, eu dou. Mas dou com alento”, afirma com os olhos sérios e perspicazes. Prestigiada por onde passa e requisitada para contar sobre a sua história com o jornalismo, Inah interrompe seu depoimento para atender uma ligação que a convidava para mais uma entrevista. Convites que já fazem parte da sua rotina há muito tempo. Para os jornalistas que estão começando, a jornalista lembra que “é importante ter humildade e não passar por cima das pessoas para ganhar espaço e oportunidades” conclui a sempre brincalhona e sorridente, filha adotada de Petrolina, Inah Tôrres.                     

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