Em contra ponto as fachadas de
lojas, cada vez mais modernas, para atrair os clientes ávidos por novidades é
possível encontrar redutos tradicionais que sobrevivem as mudanças constantes
dos tempos atuais e outros tradicionais que mudam para se adaptar aos novos
clientes.
Um
exemplo de tradição é o Salão Guararapes que funciona na Avenida Guararapes no
centro da cidade e se mantém firme desde 1958, sem extravagâncias. O
proprietário Antônio Nunes de Queiroz começou a trabalhar como barbeiro aos 12
anos em Pilão Arcado, no interior da Bahia, se aposentou recentemente aos 81
anos e deixou o salão aos cuidados do seu filho Paulo Eugênio Coelho. A mais de 50 anos este salão atende gerações,
onde pais levam seus filhos, que levam os netos e dessa forma a clientela se
mantem.
Entre
os clientes estão os políticos e religiosos da região, além de artistas como
Luiz Gonzaga e Dominguinhos, “Todos os grandes homens desta terra já cortaram o
cabelo aqui”, diz o orgulhoso Paulo Eugênio. O Salão, diferente da maioria dos
salões da cidade, é voltado exclusivamente para o público masculino onde é
possível cortar o cabelo e fazer a barba da mesma forma que se fazia no final
da década de 50.
Desde que assumiu o salão do pai, Paulo
Eugênio fez algumas mudanças no ambiente para atrair os clientes, que agora
conta com um ambiente climatizado e cadeiras mais confortáveis, ele fez questão
de manter a tradição com o atendimento exclusivo para o publico masculino. Segundo
Paulo Eugênio o pai nunca quis que ele seguisse na profissão de barbeiro “Ele
disse que tínhamos que estudar”, mas isso não o impediu de assumir o salão.
Miguel Silvinio é funcionário do Salão Guararapes desde o dia 2 de janeiro de
1981 e á 32 anos atua como barbeiro, antes dele muitos outros trabalharam ali
até o dia da aposentadoria. Hoje o salão mescla entre funcionários antigos e
novos contratados para que o trabalho tenha continuidade.
Miguel Silvinio, trabalha no Salão Guararapes á 32 anos foto: Alieny Silva |
Não muito distante da Avenida
Guararapes, na Avenida Souza Filho ainda no centro da cidade, Luiz Rodrigues da
Silva trabalha em um pequeno salão á aproximadamente 1 ano, mas atua na
profissão a mais de 40 anos. A vontade de trabalhar cortando cabelos chegou
junto com a vontade de “sair da roça”, foi então que ele deixou a agricultura e
começou a trabalhar em um novo oficio: o de barbeiro.
Luiz Rodrigues da Silva Foto: Maria Akemi |
Mesmo
com as constantes mudanças de lugar de trabalho “Seu Luiz” como é conhecido
pelos clientes, consegue manter uma clientela fiel, como Alberto Joaquim, que a
mais de 20 anos faz questão de ser atendido por Luiz Rodrigues que atende
também o seu filho o Alexandre Alberto.
Na Rua Dom Vital ainda no Centro de
Petrolina, é possível encontrar outro profissional, que atua em um meio pouco
comum hoje em dia. O Francisco Ferreira da Silva trabalha como engraxate e em
pequenos concertos nos mais diversos calçados, oficio que já exerce a mais de
22 anos. No inicio ele apenas engraxava sapatos, mas com a queda no movimento
ele passou a fazer pequenos concertos para as lojas de sapatos das proximidades.
Com o tempo esses pequenos trabalhos não estavam mais valendo o esforço e ele
parou de fazer. Entre concertos e sapatos engraxados ele totaliza de 5 á 10
clientes por dia e em alguns dias não consegue nenhum.
Francisco Ferreira Foto: Maria Akemi |
Depois de tanto tempo atuando neste
meio ele decidiu parar “Desde janeiro que estou pensando em parar de trabalhar
como sapateiro, a cola que eu uso faz muito mal à saúde, já vi colegas doentes
por causa dela”,ao lado da cadeira que ele usa para engraxar sapatos um pequeno
carrinho de lanches começa a ganhar seu espaço “eu só vou trabalhar até o fim
do mês”.
Depois da tradição a contradição.
Em Petrolina é possível encontrar muitas costureiras espalhadas por toda a cidade, mas homens nesta profissão ainda são raros. Alfaiates e costureiros exercem funções diferentes, os alfaiates criam peças exclusivas feitas sob medida, com um foco especial aos ternos atendendo, quase que exclusivamente, o publico masculino. Em contra ponto estão os costureiros, profissionais especialistas em realizar os mais diversos serviços quando se trata de corte e costura.
Com o passar dos anos alguns
conceitos mudam para se adaptar a realidade, hoje em dia são raros os alfaiates
aqui em Petrolina, assim como homens que trabalham como costureiros, Geraldo
Vieira é um deles.
Geraldo Vieira |
Em um pequeno ateliê no Centro da
cidade um homem jovem trabalha de forma silenciosa em sua máquina de costura,
dobrando tecidos e traçando retas em pequenos pontos com a linha de costura ele
dá forma a uma calça masculina. Geraldo Vieira começou a costurar aos 15 anos
em Teresina, no Piauí, aprendeu o oficio observado o pai
costurar, nunca teve aulas sobre costura, apenas observou o pai e aprendeu com
os seus próprios erros. Dos 15 aos 20 anos trabalhou com costura no Piauí até o
dia que seu pai decidiu mudar-se para Petrolina convidando o filho a ir junto.
17 anos depois ele ainda trabalha com a costura e vive com a sua esposa e os
seus três filhos. “Seu Viera” tem 8 irmãos, destes 3 são alfaiates dois deles
residem em Petrolina e trabalham com costura.
A surpresa no ateliê é bem comum,
mas Seu Vieira não liga, os olhares curiosos são bem frequentes, inclusive
durante esta entrevista, uma senhora parou na calçada para ver Seu Vieira trabalhar
e quando questionada se ela desejaria algo “só estou olhando, acho
interessante” girou os tornozelos e seguiu o seu caminho.
Trabalho não falta e seus clientes
estão sempre mudando, mas segundo ele alguns clientes são os mesmos de 20 anos
atrás.
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