quarta-feira, 18 de setembro de 2013

Fui Cortar O Cabelo Porque Eu Quero e Porque Me Pertenço

* Artigo de opinião



Coco Chanel (à esquerda) e Marilyn Monroe: mulheres que fugiram do padrão de sua época.
Imagem: internet
Hoje decidi escrever uma Carta de Indignação, uma piada que colegas de faculdade gostam de dizer quando o assunto é um “desabafo”.  Alguns com certeza dirão: “Quanto drama” ou “lá vem mais uma feminista”. Mas o caso é o seguinte: há três semanas resolvi cortar o cabelo. Mudar radicalmente para quem não tinha cabelo curto há mais de oito anos. Eu que tinha cabelo comprido, um pouco acima da cintura, cortei os fios no corte Chanel de bico um pouco acima dos ombros.

E desde então tenho ouvido muitos comentários do tipo: “como você é corajosa” (parece até que raspei a cabeça e que os cabelos não vão crescer novamente) ou “Você ficou linda” e um “Combinou com seu rosto”. Até aí, ok. Mas alguns comentários me incomodaram bastante, e vou contar o porquê. Tenho um relacionamento há três anos. E eu sei que é até normal, as pessoas ficarem curiosas sobre o que meu parceiro achou do novo visual. Afinal, se ele descolorisse o cabelo como o vocalista do NxZero, Di Ferrero  e jogador de futebol do Barcelona  Neymar já fizeram, creio que também perguntariam a minha opinião sobre.

Mas, entre todos os questionamentos e opiniões emitidas sobre meu novo visual, algo destoou e me incomodou bastante. Várias mulheres (SIM, MULHERES), de várias idades me fizeram uma pergunta que tive que engolir minha vontade de soltar minha opinião, para não ser, no mínimo, mal educada.

Coco Chanel e os modelos de sua grife; 1957. / Imagem: internet

E qual foi a pergunta? Vou contar: (leia a frase seguinte em tom de indignação) “Fulano DEIXOU você cortar os cabelos???”; a minha primeira reação foi me espantar. Como assim eu preciso de autorização para cortar os MEUS cabelos?! A quem tinha menos intimidade respondi apenas um “E ele tem que deixar? Eu queria cortar o cabelo e assim o fiz”. Mas minha vontade era perguntar se a pessoa não tinha vergonha de emitir uma pergunta que consegue ser tão idiota e machista ao mesmo tempo. Entretanto, para minha infeliz surpresa percebi que essa pergunta seria recorrente...

Quem me conhece sabe bem que sou feminista. Não sou de brigar (muito) com ninguém sobre isso, nem pertenço a nenhum grupo que debata a causa ou participei (apesar da vontade) de protestos a exemplo da Marcha das Vadias – que apoio totalmente. Mas não aguentei ouvir isso e resolvi escrever esse texto, para quem sabe, mudar a opinião de quem ainda cultiva o sentimento de pertencimento e posse a outra pessoa, vinculado principalmente à figura masculina (pai, namorado, marido, irmão... o que seja!).

Minha opinião sobre o feminismo é a mesma que a da Camila Dutra, disponível na íntegra:

 “O feminismo, como eu reconheço e defendo, é a luta por igualdade. É isso. Igualdade em quê? Em direitos, em deveres, em folhas de pagamento e reconhecimento de esforços e conquistas. E igualdade para quem? Para todos, e esta é a melhor parte do feminismo. Não se fala somente em igualdade entre homens e mulheres, e sim entre todos, sejam crianças, idosos, hetero, homo, bi ou trans, negros, caucasianos, indígenas, asiáticos e assim por diante. A luta feminista é uma luta por e para todos.

 Manifestante em protesto durante a Marcha da Vadias 
/ Imagem: internet
Gente, o século passado foi de muitas conquistas para nós mulheres, mas nós ainda temos que lutar muito mais. Ainda somos de uma sociedade de mentalidade patriarcal, em que a opinião de um homem tem poder decisivo sobre decisões de uma mulher. Em que a roupa que se usa pode definir seu caráter sem você nunca ter trocado uma palavra com o detentor da opinião. Em que ações igualmente praticadas por ambos os sexos, podem te fazer uma pessoa diferente, a depender se você é um homem ou uma mulher. 

Por que uma mulher que é independente, que decide não casar, ou não ter filhos, que fuma, bebe e/ou tem uma vida sexual ativa mesmo não estando em um relacionamento causa tanto espanto, se um homem nas mesmas condições é considerado “normal”? Se a Constituição Brasileira de 1988 assegura a igualdade entre gêneros, por que a mulher é taxada de “seca”, “lésbica” (Já ouvi um: “Acho que minha irmã é lésbica, nunca a vi com nenhum namorado sério”, aham, isso mesmo que você leu), “puta” e infindáveis nomenclaturas que denigrem a nossa imagem?

Sempre fui de expressar abertamente minhas opiniões, minha mãe ficava preocupada quando eu gritava aos quatro ventos que não queria me casar e nem teria filhos. Meu pai dizia que eu ia “ficar pra titia” porque nenhum homem iria aceitar meu jeito e principalmente por eu sempre dizer que “Nenhum homem vai mandar em mim”.  E quando eu digo mandar, quero dizer que sou livre. Livre para decidir o que quero para mim, e isso incluindo meu corte de cabelo.


/ Imagem: internet


 

Giomara Damasceno

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