* Artigo de opinião
Coco Chanel (à esquerda) e Marilyn Monroe: mulheres que fugiram do padrão de sua época. Imagem: internet |
E desde então tenho ouvido muitos comentários do tipo: “como você é corajosa” (parece até que raspei a cabeça e que os cabelos não vão crescer novamente) ou “Você ficou linda” e um “Combinou com seu rosto”. Até aí, ok. Mas alguns comentários me incomodaram bastante, e vou contar o porquê. Tenho um relacionamento há três anos. E eu sei que é até normal, as pessoas ficarem curiosas sobre o que meu parceiro achou do novo visual. Afinal, se ele descolorisse o cabelo como o vocalista do NxZero, Di Ferrero e jogador de futebol do Barcelona Neymar já fizeram, creio que também perguntariam a minha opinião sobre.
Mas, entre todos os
questionamentos e opiniões emitidas sobre meu novo visual, algo destoou e me
incomodou bastante. Várias mulheres (SIM, MULHERES), de várias idades me
fizeram uma pergunta que tive que engolir minha vontade de soltar minha opinião,
para não ser, no mínimo, mal educada.
Coco Chanel e os modelos de sua grife; 1957. / Imagem: internet |
E qual foi a pergunta? Vou contar: (leia a frase seguinte em tom de indignação) “Fulano DEIXOU você cortar os cabelos???”; a minha primeira reação foi me espantar. Como assim eu preciso de autorização para cortar os MEUS cabelos?! A quem tinha menos intimidade respondi apenas um “E ele tem que deixar? Eu queria cortar o cabelo e assim o fiz”. Mas minha vontade era perguntar se a pessoa não tinha vergonha de emitir uma pergunta que consegue ser tão idiota e machista ao mesmo tempo. Entretanto, para minha infeliz surpresa percebi que essa pergunta seria recorrente...
Quem me conhece sabe bem que sou
feminista. Não sou de brigar (muito) com ninguém sobre isso, nem pertenço a
nenhum grupo que debata a causa ou participei (apesar da vontade) de protestos
a exemplo da Marcha das Vadias – que apoio totalmente.
Mas não aguentei ouvir isso e resolvi escrever esse texto, para quem sabe,
mudar a opinião de quem ainda cultiva o sentimento de pertencimento e posse a
outra pessoa, vinculado principalmente à figura masculina (pai, namorado,
marido, irmão... o que seja!).
Minha opinião sobre o feminismo é
a mesma que a da Camila Dutra, disponível na íntegra:
“O feminismo, como eu reconheço e defendo, é a luta por igualdade. É isso. Igualdade em quê? Em direitos, em deveres, em folhas de pagamento e reconhecimento de esforços e conquistas. E igualdade para quem? Para todos, e esta é a melhor parte do feminismo. Não se fala somente em igualdade entre homens e mulheres, e sim entre todos, sejam crianças, idosos, hetero, homo, bi ou trans, negros, caucasianos, indígenas, asiáticos e assim por diante. A luta feminista é uma luta por e para todos.”
“O feminismo, como eu reconheço e defendo, é a luta por igualdade. É isso. Igualdade em quê? Em direitos, em deveres, em folhas de pagamento e reconhecimento de esforços e conquistas. E igualdade para quem? Para todos, e esta é a melhor parte do feminismo. Não se fala somente em igualdade entre homens e mulheres, e sim entre todos, sejam crianças, idosos, hetero, homo, bi ou trans, negros, caucasianos, indígenas, asiáticos e assim por diante. A luta feminista é uma luta por e para todos.”
Manifestante em protesto durante a Marcha da Vadias / Imagem: internet |
Gente, o século passado foi de
muitas conquistas para nós mulheres, mas nós ainda temos que lutar muito mais.
Ainda somos de uma sociedade de mentalidade patriarcal, em que a opinião de um
homem tem poder decisivo sobre decisões de uma mulher. Em que a roupa que se
usa pode definir seu caráter sem você nunca ter trocado uma palavra com o
detentor da opinião. Em que ações igualmente praticadas por ambos os sexos,
podem te fazer uma pessoa diferente, a depender se você é um homem ou uma
mulher.
Por que uma mulher que é independente,
que decide não casar, ou não ter filhos, que fuma, bebe e/ou tem uma vida
sexual ativa mesmo não estando em um relacionamento causa tanto espanto, se um
homem nas mesmas condições é considerado “normal”? Se a Constituição Brasileira
de 1988 assegura a igualdade entre gêneros, por que a mulher é taxada de
“seca”, “lésbica” (Já ouvi um: “Acho que minha irmã é lésbica, nunca a vi com
nenhum namorado sério”, aham, isso mesmo que você leu), “puta” e infindáveis
nomenclaturas que denigrem a nossa imagem?
Sempre fui de expressar
abertamente minhas opiniões, minha mãe ficava preocupada quando eu gritava aos quatro
ventos que não queria me casar e nem teria filhos. Meu pai dizia que eu ia
“ficar pra titia” porque nenhum homem iria aceitar meu jeito e principalmente
por eu sempre dizer que “Nenhum homem vai mandar em mim”. E quando eu digo mandar, quero dizer que sou
livre. Livre para decidir o que quero para mim, e isso incluindo meu corte de
cabelo.
/ Imagem: internet |
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