segunda-feira, 9 de setembro de 2013

Programa Ciência Sem Fronteiras faz com que cada vez mais jovens se interessem pelo intercâmbio

Desde 2011, com a criação do programa Ciência Sem Fronteiras, o sonho do intercâmbio - outrora uma realidade distante - se tornou mais acessível para uma boa parte dos jovens universitários brasileiros. Com o objetivo de fornecer, até 2015, 101.000 bolsas para estudantes de graduação, mestrado e doutorado, o programa tem atraído a atenção mesmo daqueles que nunca haviam sonhando com a possibilidade de estudar por 1 ano (ou mais) no exterior. 

Espalhados pelo mundo todo, o programa já havia beneficiado até fevereiro deste ano 22.646 estudantes, das mais diversas áreas de graduação. Na região do Vale do São Francisco, os estudantes acompanharam a onda que tomou conta resto do país e também passaram a demonstrar uma mudança de comportamento, graças ao interesse no Ciência Sem Fronteiras e a possibilidade de estudar no exterior por algum tempo. 

Marta Xavier Menezes de Oliveira, 22 anos, estudante do 4º semestre de Engenharia Mecânica na Univasf, foi recentemente contemplada com o projeto. Marta irá estudar nos EUA, mas ainda não sabe em que cidade ou em que universidade. Segundo ela, após a popularização do programa, muitos alunos, outrora relapsos, progrediram nos estudos, para que as chances de ingresso no programa sejam maiores. "Vi gente que antes nem estudava, se preocupando com provas, com notas... O Ciência Sem Fronteiras mexeu um pouco com a atmosfera da universidade."

Questionada porque se inscreveu no projeto, Marta é direta. "Duas coisas contaram muito. A possibilidade de aprimorar meu conhecimento em língua inglesa, conhecer pessoas e culturas diferentes da minha, de modo a agregar novos hábitos e uma nova vivência e, principalmente, a vontade de conhecer o meu curso de um novo ângulo e perspectiva.

Mayara em Wayne

Mayara Nunes Portela, 22 anos, acabou de chegar em Detroit, Estados Unidos, onde vai passar 1 ano estudando na Wayne University matérias relacionadas a sua graduação (Engenharia Química, na UFBA). Mayara cresceu em Petrolina, decidiu fazer sua faculdade em Salvador e, agora, adapta-se novamente a uma nova realidade. "Cheguei aqui há algumas semanas, mas não esperava o choque tão grande. Eles tem tradições universitárias que nós não temos. E, na verdade, não só universitária. Mas até mesmo no dia-a-dia. Vai ser um grande aprendizado pra mim."

Mayara diz que o intercâmbio também não esteve nos seus planos. "Não era algo com o que eu sonhava. Mas ao ver vários amigos meus viajando e a oportunidade batendo à porta, não pude deixar passar."

Recentemente, o programa se viu envolvido em algumas polêmicas graças a exclusão dos cursos da área de Humanas dos contemplados. Antes disso, contudo, alguns estudantes de cursos ligados a esse tipo de ciência conseguiram ser aprovados no Ciência Sem Fronteiras e entraram em contatos com uma nova realidade. Foi o caso de Anna Charlotte Reis, 25, estudante do curso de jornalismo da Universidade do Estado da Bahia.

Anna Charlote em frente ao prédio de Letras da Universidade de Coimbra, onde estudou por 1 ano
Foto: Arquivo Pessoal

Para Charlotte, a motivação foi, além de acadêmica, comportamental. Ela queria saber como era o contato com uma nova cultura totalmente diferente da sua. "Um fato interessante é que eles sabem muito da nossa cultura, muitas vezes de forma distorcida, mas nós pouco sabemos deles e isso me instigou a querer conhecer mais da cultura e das tradições acadêmicas deles. A universidade de Coimbra é uma das mais antigas da Europa e tem uma tradição acadêmica muito rica. Os estudantes utilizam trajes durante todo o ano e realizam a iniciação dos calouros( de forma bem mais intensa que as que temos aqui. Eles realmente entram no espirito acadêmico e isso só encerra com uma festa tradicional, a festa das fitas em maio."

Uma das críticas que ela faz ao programa é aos critérios de seleção, alguns falhos e, principalmente, ao recente corte da área de Humanas. "Como estudante de Comunicação, eu vi o quanto um projeto desses é importante. Não pode ser restringido a uma área ou duas, como eles querem, focando-se apenas nas exatas."

É a mesma indagação que faz Adriano Arraes, 21 anos, estudante do 5º período de Direito da Facape. "Eu sempre quis fazer intercâmbio. E quando o Ciências Sem Fronteiras foi lançado, me empolguei com a possibilidade. Então foi bem triste ver que os cursos da área de Humanas foram cortados. É uma perda muito grande tanto para o programa quanto para o país."

Em breve, novas chamadas serão abertas para países como Áustria, Irlanda e Suécia. Enquanto isso, estudantes se preparam para viajar, outros regressam ao seu país de origem, alguns esperam resultados e mais uns tantos nem se inscrever podem. Contudo, uma coisa é comum: O Ciência Sem Fronteiras está mudando a forma dos jovens se comportarem diante da trajetória acadêmica, não apenas no Vale do São Francisco, mas em todo o país.

Por: Alexandre Borges

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